15 agosto 2006

Representação e modernidade

Representação e modernidade

Prof. Manuel Antônio de Castro

A Modernidade não é um todo homogêneo e simultâneo, mas extremamente complexa e que se nos oferece como um grande processo. A partir desta constatação, podemos notar que se fazem presentes três modalidades de REPRESENTAÇÃO.

1a. FILOSÓFICA. Início com Descartes e com os empiristas ingleses. Por seu caráter de fundamento atravessará todos os momentos, influenciando-os. Suscitará diferentes teorias da arte e tornar-se-á o paradigma das diferentes correntes críticas, quando a filosofia se torna ciência.

2a. POLÍTICA. Início também com os empiristas ingleses, mas se torna mais nítida e definida com os enciclopedistas, tendo a sua plenificação com o Iluminismo e a Revolução Francesa. Afirma-se com a ascensão da burguesia. Substitui a representação aristocrática e, por conseqüência, entra em choque com a representação religiosa. Encontra forte apoio na filosofia idealista de Kant, Fichte e Hegel.

3a. POÉTICA. Tem o sinal da crise no Dom Quixote. Começa a se afirmar na famosa querela dos antigos e modernos e vai se plenificar com o advento do Romantismo. Tem dimensões filosófica e políticas, mas seu núcleo retoma a velha questão do poético e do sagrado. É uma poética de ruptura, pois inaugura uma nova poética que faz da afirmação e negação (analogia e ironia) o eixo principal. (Ver de Otávio Paz Os filhos do barro). Por um lado pode-se falar em representação poética (Estética, teorias etc.), por outro não, uma vez que as obras, enquanto operam, e não são objetos portadores de uma representação, não representam mas mundificam.

Em termos atuais, o principal problema é a separação entre estas três representações, seguindo uma tendência inaugurada no século XIX de fragmentar tudo e de estudar o real dividido em disciplinas, determinadas pelo seu objeto. Nesta fragmentação – de que resulta para a arte a ESTÉTICA -, a arte fica esvaziada de todo o seu vigor, pois por seu caráter ético, a arte não se pode separar nem do saber nem da política. Terá uma outra visão destes dois campos, normalmente ignorada pelo modelo dominante (filosófico-científico), uma visão poética que repensa a representação em seus fundamentos, mas não é fácil fazer dela um núcleo de pensamento e questionamento, numa época cada vez mais dominada pela ciência e pela técnica. É importante insistir em trazer a experiência poética para o palco do debate, porque dotada de um vigor que pode transformar e iluminar a vida ético-política (no sentido de comunidade ou polis) e as próprias dimensões da ciência em suas implicações humanas. Nesse sentido, podemos falar numa poética e cidadania. Isto se coloca mais como questão do que como realidade.

No fim fiz as seguintes anotações:

Este tema remete para a questão ética, mas a ética está estreitamente ligada a cinco conceitos fundamentais:

1 – experiência

2 – interpretação

3 – diálogo

4 – tradição

5 – historicidade (cf. ficha Ética (a) ).

Esta questão ética está estreitamente ligada à presença e vigor da obra de arte. E esta nos arrasta para a densidade da experiência, mas ela pressupõe uma abertura para a “escuta” transformada em interpretação qdo. Então se opera o vigor ético (daí: obra, interpretação e ética).

Agora fiz, para o curso de 2003 / 2º. S. as seguintes anotações:

Pós-modernidade e mito

Na sociedade mítica cada um educava, isto é, construía o homem e a realidade na medida em que participava e se inseria nos mitos e ritos. Não havia utopia em relação à realidade nem espírito crítico em relação a tudo.

Ora, o mesmo está acontecendo na sociedade do conhecimento. Todo sistema educacional está montado para reproduzir as representações do homem e da realidade na medida em que cada um é treinado para reproduzir o sistema, um sistema com feedback, ou seja, que dá a aparência de mudança, mas q. na realidade apenas se autoreproduz. E aí acontece algo fundamental: passa a imperar a mesma vicenciação do tempo. Ver para isto minhas anotações sobre nosso tempo.

É claro que há uma diferença radical entre as duas épocas, melhor entre as duas construções do homem e do real. A transformação do homem e do real em sistema só é possível porque se transforma a Linguagem em sistema, ou seja, a língua/linguagem “natural” se transforma em línuga/linguagem técnica, ou seja, instrumental e comunicacional. Na medida em que o real e o homem implicam a linguagem, esse é o homem e o real do nosso tempo. Ver o ensaio de Heidegger: Língua técnica e língua de tradição.

Isto tudo é importante para a reflexão sobre a escrita. Há aí uma ligação importante: a escrita não seria uma primeira apreensão e transformação da linguagem em construção técnica. A diferença estaria no próprio duplo significado de techné: 1º. Escrita: techné grega.

2º. Sistema comunicativo: techné moderna.

É preciso pensar o sistema em três dimensões:

1º. Linguagem-mito-sistema

2º. Linguagem-techné-escrita-sistema

3º. Linguagem-instrumento-sistema (sociedade em rede e sociedade do conhecimento)

Para desenvolver com a questão da representação na modernidade e na pós-modernidade.

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