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Possibilidades de projetos poéticos.
1ª. Poética, realidade e mundo
Há a possibilidade de projetos que tematizem e manifestem a experienciação do pensamento poético do sagrado em todas as culturas humanas. São projetos que deveriam trazer para cena a inter-culturalidade poético-artística através de múltiplos temas. Aqui não haverá nenhuma distinção entre Ocidente e Oriente. Também não se deve procurar ficar restrito à concepção de obra de arte dominante na Ocidente a partir dos conceitos metafísicos, mas abrir-se para as possibilidades diferentes de realidades de mundo.
Cada obra de realização originária terá como eixo central: tempo e história, memória e linguagem, vigentes a partir da essência da poiesis. Estas questões são o fundo onde acontecem as poéticas e não têm nenhum horizonte historiográfico. Dentro do horizonte de tempo, memória e história acontecerão as poéticas das grandes obras em que se farão presentes as grandes questões da realidade e do ser humano, em sua complexidade fundamental e originária, e com sua diversidade e multiplicidade de manifestações e realizações. Os projetos devem sempre fugir da caracterização fundada no modelo ocidental das “formas”, “estilos” ou “conteúdos” e suas classificações.
Enquanto fundadas nas questões, devem manifestar a originariedade dos mundos que elas configuram, isto é, são experienciações originais sem possibilidade de classificação, porque não são redutíveis a conceitos em-si, ou seja, sem articulação permanente com as questões. Elas estão muito relacionadas com o projeto de realização da realidade e do ser humano inerente a diferentes povos. Aqui a questão cultural não pode ser o pano de fundo para destacar as poéticas e suas obras (diferenças culturais), mas, ao contrário, porque há obras poéticas e poéticas diferentes, é que é possível apreender e compreender tanto a originariedade como a originalidade das diferentes culturas, pois parte-se do princípio de que a arte é manifestação da realidade e do humano do homem.
A identidade de realidade e do humano do homem não podem ser reduzidas à realidade e ser humano ocidental, pois só há identidade em tensão com as diferenças. E estas diferenças não podem ser apenas “formais” ou “estilísticas” ou “conteudísticas”, pois estas classificações já pressupõem uma definição no âmbito desses conceitos (ocidentais). E não se trata de conceitos, mas, sim, da sua tensão com as questões. Por isso, serão tais poéticas diferentes, pois articularão e manifestarão a realidade e o humano do homem de maneiras diferentes, sem, no entanto, deixarem de ter como fundo permanente a identidade da realidade e do humano do homem.
A questão originária da realidade e do humano do homem sempre estará presente, ou seja, “o que é” a realidade e o humano do homem. Mas o seu “como é” entrará em tensão com “o que é”, configurando, necessariamente poéticas diferentes, ou seja, modos essenciais de experienciar e manifestar diferentes realidades e seres humanos. Tais poéticas não são, em geral, objeto de projetos, porque as realizações não-ocidentais não se “encaixam” nos “conceitos” ocidentais e, por isso, não são consideradas poéticas, como se houvesse realidade e ser humano que não se realizasse no eixo da poiesis, ou seja, na essência e sentido do agir. Incluir tais realizações em projetos deve ser uma das prioridades da poética da poiesis. Tomando, por exemplo, os poemas de Chuang-Tzu é perfeitamente possível fazer projetos de poéticas inerentes a esses poemas.
2ª. Poética, obras de arte e interdisciplinaridade
Há a possibilidade de muitos projetos que, tomando o diálogo como princípio de exercício do pensamento, abram-se para o sentido do agir enquanto experienciação de pensamento das artes e ao mesmo tempo de outras disciplinas. Então temos aqui a possibilidade de muitos projetos em que sejam temas as diferentes possibilidades da interdisciplinaridade. Entende-se aqui interdisciplinaridade em dois sentidos: entre as artes e entre as artes e outras disciplinas. Nestes projetos, a questão do método se torna essencial, porque a possibilidade real e efetiva da interdisciplinaridade passa necessariamente pela questão do método.
3ª. Pensamento poético nas culturas de língua portuguesa.
Ao contrário do grego e do alemão, o português não tem um vocabulário mais específico de filosofia. Seus termos filosóficos são tradução direta ou do grego ou do latim ou ainda mais recentemente do alemão. Mas isso de maneira alguma quer dizer que não haja um forte vigor de pensamento em língua portuguesa. Porém, ele ocorre predominantemente nas obras poéticas. No vocabulário filosófico predomina um esforço de precisão conceitual, já no pensamento poético predominam as questões. Não se deve neste contexto entender vocabulário como terminologia específica de um determinado discurso ou disciplina. Tanto o vocabulário poético como o vocabulário filosófico surgem da língua cotidiana, mas em que cada palavra e a própria sintaxe são densificadas de tal maneira que nelas a realidade se realiza em novas experienciações de mundo.
São estas novas experienciações de mundo que ocorrem em muitas das obras de autores de língua portuguesa. Vistas nesta perspectiva, muitas obras ainda não foram identificadas, pois fogem às classificações canônicas e/ou marginais. Esta linha de projetos tem por finalidade não só levantar essas obras, mas, sobretudo, através de diferentes pesquisas e projetos, ir configurando esse vocabulário que realiza um pensamento poético. Isso nunca foi feito. De outro lado, tais projetos têm por finalidade mais específica e fundamental manifestar como nas obras acontecem essas novas experienciações de mundo como realizações da realidade.
Em vez de usar a terminologia conceitual metafísica da Teoria literária, da Estética e da crítica para classificar as obras, procuram-se escutar as próprias obras, no que elas poeticamente realizam de experienciação inaugural da realidade, contrapondo-se, inclusive, às concepções de arte e de realidade através dos conceitos filosóficos historiográficos e científicos, repetidos à exaustão pelas correntes críticas e por outras disciplinas. A título de exemplo, poderíamos citar a palavra sertão, na obra de pensamento poético de Guimarães Rosa. Ela ultrapassa em muito qualquer conceito de ordem geográfica, sociológica, cultural, crítica e estilística. Torna-se a palavra-verbo de uma experienciação poética inaugural da realidade enquanto mundo. É no horizonte desta experienciação poética inaugural que o ser humano vai ser apreendido e compreendido. Sem dúvida nenhuma, temos na obra roseana um pensamento poético. Os projetos devem tematizar qualquer obra escrita em língua portuguesa.
4ª. A Poética, as Poéticas e os métodos
A poética terá sempre como fundo a poiesis. Neste sentido, são múltiplas as questões e os desdobramentos. Aqui haveria uma centralização no pensar a Poética enquanto as poéticas no horizonte do sagrado e suas diferentes experienciações. A fonte originária de todas as experienciações de pensamento é o sagrado. Mas este se desdobra em algumas experienciações históricas de pensamento, tendo sempre uma referência com Eros e Thanatos.
1 – A poética e as poéticas
1.1 – A poética e os mitos (de diferentes povos);
1.2 – A poética e as religiões;
1.3 – A poética e os pensadores originários;
1.4 – A poética, os sofistas, os retóricos e a gramática;
1.5 – A poética e o pensamento platônico;
1.6 – A poética e o pensamento aristotélico;
1.7 – A poética e outros pensamentos filosóficos;
1.8 – A poética e o pensamento heideggeriano.
2 – A poética e outras disciplinas de conhecimento
3 – A poética e os métodos
Aqui não se entende método como metodologia, mas como um caminho entre, ou seja, como a poiesis se dá. Cada obra já traz em si, como criação originária, a configuração de seu método. Isso é que é preciso pesquisar. Por outro lado, todas as grandes obras de pensamento fundam igualmente o seu método. Método implica sempre decisão de leitura enquanto diálogo.
Os projetos devem destacar as questões centrais que todo método pro-voca. De alguma maneira as questões da poética como um todo já se fazem presentes aqui. Cada poética de uma grande-obra é, em-si, um caminho, por isso ele nunca pode ser separado de um aprendizado e ao mesmo tempo de uma aprendizagem.
3.1 – Os diferentes métodos e o pensar no percurso ocidental;
3.2 – O método e a hermenêutica: a questão da compreensão;
3.3 – A compreensão hermenêutica e os diferentes conhecimentos. A questão da dupla interdisciplinaridade:
3.3.1 - A interdisciplinaridade das diferentes disciplinas no horizonte da poética, em
relação a todas as disciplinas de cunho científico;
3.3.2 – As poéticas das diferentes artes. A essência aqui da interdisciplinaridade este em elas se implicarem sempre enquanto Terra e Mundo.
Jogando o jogo da poiesis, cada projeto e cada poética deve sempre levar em conta as questões que percorrem toda poética, mas destacando tanto a identidade como as diferenças e nunca de maneira abstrata, pois devemos ter bem presente que a realidade e o ser humano nunca se repetem, embora vigorem sempre no mesmo. A poética da poiesis preserva sempre essa tensão dialógica. Estas reflexões se inscrevem na própria questão central da leitura, não meramente escrita, mas também oral e corporal. Por isso, de alguma maneira, todos os projetos de Poética necessitam incorporar, cada um à sua maneira, uma reflexão sobre a questão do método.
5ª. Projetos mixtos
A tentativa de delimitar com uma certa precisão os projetos em Linhas de pesquisa, em arte, não deixa de ter uma certa arbitrariedade e incompletude. A Poética não se deixa paradigmatizar em teorias de tentativa de dar conta do todo. A diferença como criatividade é o próprio, é o poético. Neste sentido, a elaboração e desenvolvimento de projetos em Poética deve estar além das Linhas de pesquisa. Diante disso, a quinta linha de projetos quer acentuar a espontaneidade e inventividade como um traço fundamental dos projetos. Disso decorre que os projetos podem estar fora destas linhas de projetos ou pertencerem a mais de uma linha. Centralizados nas questões, o seu grau de criatividade está na aquisição e desenvolvimento da densidade em que elas são tematizadas.
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