08 outubro 2007

A Universidade do porvir - Reflexões



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1 - Apresentação

As presentes reflexões procuram responder e corresponder à dinâmica integradora do saber e do conhecimento numa sociedade do conhecimento em rede e de uma cultura globalizada em que hoje vivemos. Voltam-se também para uma visão crítica e assinalam alguns pontos a serem considerados caso se queira pensar uma universidade que corresponda à sua vocação original e aponte caminhos novos pela revitalização do impulso que a criou. Mais do que um modelo acabado têm por finalidade estas reflexões trazerem uma contribuição de questionamento que se una a outras para assumirmos a responsabilidade consciente de pensar uma universidade por vir, em consonância não só com nossos tempos, mas também tendo em vista a realidade e o mundo que queremos construir.

2 – A universidade

A uni-versidade surgiu quando se quis constituir um saber que abarcasse e, ao mesmo tempo, dissesse respeito ao todo da realidade, apreendendo na unidade a di-versidade de fenômenos e conhecimentos. O grande ponto de partida foi a pergunta pela physis, ou como a denominamos hoje, a natureza, da qual se buscava o princípio de origem e de constituição, o que os gregos nomearam como arché. A busca da arché foi-se desdobrando em muitos princípios, questões e conceitos. E desde então é longa e complexa a maravilhosa história dessa procura. Porém, algo estranho aconteceu: perdeu-se a idéia de unidade enquanto princípio. O conhecimento tendeu a se separar cada vez mais da natureza viva, multiplicando-se até hoje em novas disciplinas. E pelo predomínio do conhecimento técnico levou a profundas transformações dos ecossistemas, de tal maneira que hoje seus efeitos ameaçam a mãe-Terra, considerada pela teoria de Gaia, vida, origem e fonte de todos os seres-vivos. Os gregos a entenderam em seus mitos como zoé, não um sentimento de vida, mas o vigor e princípio de toda vida, de todos os seres viventes. A universidade não se vê apenas diante do problema da proliferação incontrolável de disciplinas e seus conhecimentos cada vez mais especializados, precisando urgentemente de uma nova organização e fins, mas também diante da questão mais profunda de tentar reencontrar o saber que lhe deu origem e é o seu motivo de ser. Para isso é necessário que ela integre saber e conhecimentos.

3 – Os fins da universidade

Tendo em vista uma nova universidade, deve-se procurar integrar nela, na formação do ser humano e na integração deste ao corpo social, o saber e os conhecimentos, e o possível exercício de ambos na vida social e pessoal, dentro de quatro pressupostos básicos integradores:
1º. A tensão criativa entre a realidade como um todo e o saber e os conhecimentos ensinados e produzidos na Universidade;
2º. A formação do ser humano tendo em vista a experienciação de um saber e a prática de um conhecimento profissional e funcional que o integre no corpo social;
3º. A concretização de um saber mais integral, enquanto realização do que cada um é e o exercício pleno da cidadania, para que não haja separação entre o que se conhece e o que se é, nem entre pessoa e ser social;
4º. A realização de um saber e conhecimentos que integrem a Terra e a sociedade, tendo como referências a identidade humana e as diferenças culturais.
A universidade não pode ser uma ilha em meio a uma realidade em contínua transformação. No entanto, deve ser repensada como pólo de produção múltipla dos conhecimentos e do saber e, ao mesmo tempo, como o lugar de integração e reflexão pelas quais eles estejam a serviço do humano do ser humano e da Terra como um todo (zoe).

4 - A universidade e o ser humano

Ao longo da sua preparação, o ser humano deve procurar desenvolver seis dimensões:
1º. O pensar, como dimensão maior e permanente do questionar, do diferenciar e do dialogar;
2º. O raciocinar nas mais diferentes formas e possibilidades de questionar, criticar e conceituar;
3º. A capacidade comunicativa em suas diversas manifestações;
4º. A capacidade de ler, compreender e interpretar, fazendo de um tal ato algo radicalmente criativo e de auto-crescimento, onde o ler seja também ler-se;
5º. O dom para a inovação, a invenção e a criação;
6º. A realização harmônica e plena do que cada um é: social, pessoal, profissional e afetivamente.

5 – A organização integrada através dos núcleos

Estas seis dimensões são os pressupostos orientadores para a organização integrada da universidade em núcleos. O importante não é querer agrupar as disciplinas, mas achar para a rede interdisciplinar o horizonte comum aos nós e fios da rede. A imagem da rede com seus nós, fios e vazios quer acentuar que a constituição dos núcleos deve responder e corresponder efetivamente a demandas reais, tendo algo fundamental em comum. Por isso, as disciplinas devem buscar esse algo em comum para depois se reunirem em núcleos. Só em seguida devem ser institucionalizadas, mas estabelecendo a possibilidade dinâmica de novas configurações. As práticas e as necessidades já existentes e futuras é que devem ser o horizonte da constituição de tais núcleos.

6 – A universidade e as projeções futuras

Nunca a uni-versidade precisou tanto do saber para dar conta da di-versidade de conhecimentos. Os três níveis em que atua a Universidade: acúmulo, transmissão e produção de conhecimentos passam hoje por uma transformação e expansão sem precedentes na história humana. Daí a necessidade de repensar a uni-versidade dentro dessa di-versidade quanto às suas quatro finalidades antes enumeradas.
Esse processo tradicional passa hoje por um fenômeno novo, exigindo da universidade atitudes e procedimentos novos, onde as divisões tradicionais não atendem mais a esta dinâmica. O saber sempre teve como característica fundamental o traço da permanência, enquanto Memória. Sua concretização se dava nos ritos míticos e nas festas. O saber transformou-se em conhecimento conceitual. Este traço permitia o ensino e a aplicação continuada. Hoje, a dinâmica da produção do conhecimento, pelo investimento maciço em novas pesquisas, introduz um componente novo: a obsolescência do conhecimento científico e técnico muito rapidamente. E, paradoxalmente, os conhecimentos conceituais vivem hoje de mudança, em função da própria mutação dos seus paradigmas. Por outro lado, é intensa a busca de paradigmas cada vez mais abrangentes e radicais, tentando dar conta daquela princípio e unidade que deu origem à uni-versidade. É nesse esforço que se inscreve a inter-disciplinaridade científica. Além do seu aspecto funcional, diz respeito também aos próprios conhecimentos que ela desde sempre procura. Fica, porém, a questão se tais conhecimentos algum dia darão conta do saber em que se fundou a uni-versidade. Mas isto não é negativo, pode ser seu desafio maior.
A necessária interdisciplinaridade traz conseqüências múltiplas e novas para a universidade nos planos: do ensino, da acumulação, da profissionalização e da sua função social. Por isso, a extensão tem de ser repensada e integrada totalmente no binômio ensino e pesquisa. Hoje, ocorre uma nova verticalização das camadas sociais pelos novos conhecimentos e pelo acesso às novas técnicas, pela mutabilidade das profissões tradicionais, pela fragmentação, ampliação e especialização dos conhecimentos. A rede de conhecimentos tende a se fragmentar em muitos nós. Daí a necessidade radical da inter-disciplinaridade, onde o “inter/entre” passa a ser um “nó” de muitas possíveis conexões.
Isso muda completamente a tarefa e perfil da formação, pois acarreta custos sociais cada vez maiores para a formação de cada um, pelo aumento do tempo de estudo e pela adaptação dos profissionais antigos aos novos conhecimentos e às novas técnicas, exigindo reciclagens contínuas.
Tudo se transforma pela globalização desses conhecimentos e pelos acessos facilitados pela internet. E traz a angústia da formação contínua, da falta de tempo para estudar e acompanhar os conhecimentos novos. E ainda ter tempo para a vida pessoal afetivo-familiar e cultural.

7 – As disciplinas e a universidade

O que hoje é evidente é a obsolescência das tradicionais divisões do conhecer. Qualquer nova divisão hierárquica que queira dar conta da complexidade dos conhecimentos em relação ao real, ao social e ao pessoal, nos mais diferentes planos e níveis, está fadada ao fracasso. A rede como teia de conhecimentos é a nova realidade. Platão inaugurou a organização do saber em três grandes epistemes: a da physis, a do logos, a do ethos. E com essas três divisões procurou achar, na realidade, um fundamento. E o achou. Pois a episteme do logos, enquanto razão e lógica – pressupostos do conhecimento científico - acabou por determinar as outras duas e se impor nos desdobramentos que ocorreram nas três, criando-se as diferentes e novas disciplinas, que se foram multiplicando pelo auto-desdobramento. A universidade nasce, na Idade Média, como resultado desse auto-desdobramento. A Modernidade nada muda essencialmente nesse modelo de organização das disciplinas. Há, apenas, uma ampliação e redistribuição pelo aprofundamento do modelo lógico-matemático-científico. Esse modelo precisa de uma reinvenção. E é seu maior desafio. A questão da interdisciplinaridade é a questão do método. Quanto a isso não pode haver ilusões. O que é o método?
Para tal é necessário achar alguns pontos de rumo. Porém, não podem mais ser grandes divisões do conhecimento em relação ao real, como por exemplo, ciências da natureza e ciências do espírito. Essa dicotomia já soa estranha e problemática. Também se deve questionar se essas divisões ainda são necessárias. Hoje, o fundo em comum é, sem dúvida, a constituição do conhecimento em rede, onde as denominações são muito precárias, porque o inter-relacionamento e sua necessidade são cada vez maiores. Com isso, a instituição da disciplina isolada soa como algo obsoleto. Porém, o paradigma expresso nas metáforas da rede, nós e linhas não dá conta de toda a complexidade dos conhecimentos e saberes em relação à realidade enquanto mundo.

8 - Uma universidade atual e atuante

A universidade como lugar central desses processos precisa urgentemente ser repensada para responder e corresponder a essa dinâmica. Para tanto é importante:

8.1 - ser ágil, reduzindo o poder da burocracia ao indispensável;
8.2 - otimizar os custos cada vez mais crescentes;
8.3 - fazer fluir e circular os conhecimentos sem entraves burocráticos, organizacionais e institucionais;
8.4 - otimizar os conhecimentos de ponta;
8.5 - otimizar o tempo dos que detêm os conhecimentos e podem multiplicá-los (técnicos, professores, pesquisadores e profissionais especialistas), ampliando o conceito de professor;
8.6 - repensar o espaço universitário, baseando-a em redes comunicativas e nós referenciais pela criação institucional de uma forte infra-estrutura de circulação do conhecimento, com a criação de núcleos/nós em rede informatizada, sem a necessidade de muitos espaços físicos, no que diz respeito à circulação dos conhecimentos;
8.7 - repensar o ensino como transmissão através de novos procedimentos:
- contato com o conhecimento através dos novos meios comunicativos e da disponibilidade da informação em larga escala, e facilmente acessível para os alunos;
- otimizar a potencialidade criativa de professores e alunos pela discussão e diálogo em sala de aula e em rede;
- reduzir as aulas tradicionais expositivas e repetitivas sobre o que já está largamente disponível, pois essa estrutura de ensino reflete tempos em que o acesso á informação era muito precário;
- um forte impulso no exercício da leitura e interpretação dos mais diferentes textos. Na compreensão do que se lê, dá-se o termômetro do aprendizado, da capacidade compreensiva-crítica da auto-poiese;
- sair da concepção de formação como assimilação passiva e passar – pela metabolização e apropriação – para o aprendizado auto-poiético;
8.8 - que o contato entre professores e alunos passe por uma reformulação profunda, atendendo a essas novas realidades e, ao mesmo tempo, a cada tipo de ensino e sua dinâmica;
8.9 - que a nova universidade se mova em duas administrações: 1ª. A acadêmica, onde a rede e a disponibilidade do conhecimento dispensa a multiplicação de lugares e professores repetidores, atendendo a um maior número de alunos; 2ª. A administrativa, a que já existe hoje, simplificada pela organização em rede, com procedimentos padrões, circulação de processos, decisões e atendimento em rede;
8.10 - que se repense completamente o currículo dos alunos e o acesso às disciplinas, levando em conta: a duração, a profissionalização, a reciclagem, a atualização, a formação contínua, a criação de novas profissões, o atendimento a demandas sociais específicas, o planejamento de uma interface humana, social e econômica, uma forte formação humana e não apenas funcional-profissional;
8.11 – que, nesse sentido, a universidade aja em três planos: inclusão pelo conhecer; diferenciação pelo domínio do conhecer; realização pela integração de conhecer e saber, com vistas à auto-poiese tanto na dimensão profissional como na ético-humana e social.
8.12 - que é necessário repensar a relação universidade Polis, numa integração transformadora e de desenvolvimento social, mas sem reduzi-la a uma função político-ideológica passageira. Isto pressupõe pensar a dimensão política inerente a todo conhecimento e saber.

9 – Núcleos: a formação em teia

Nota-se na natureza, mãe de todo saber e conhecimento, que cada ser humano se constitui como alguém com raízes, sejam físico-orgânicas, sejam familiares, sejam culturais, sejam de memória, ou seja, ser alguém é sempre se relacionar a partir de um nó na teia da vida, em múltiplas direções e relações, tanto verticais como horizontais: é dar-se o corpo que terá. A rede é o corpo social e vital enquanto mundo cultural.
Assim sendo, o aprendizado do conhecimento se dá numa dinâmica de realização pessoal e de inserção social. A formação em raiz deve atender livremente às mais variadas demandas, numa grande dinâmica de possibilidades de formação. Estes oferecimentos reais de conhecimento é que devem constituir os núcleos, mas as escolhas devem ser para cada um bastante livres. Claro, dentro da dinâmica do núcleo ou congregação de núcleos escolhidos. As raízes devem procurar naturalmente o alimento do conhecimento para o desenvolvimento pessoal e profissional. A tensão entre as cinco dimensões e sua otimização, e os conhecimentos acumulados e desenvolvidos é que irá determinar a inclusão profissional e social, de acordo com as demandas dos novos conhecimentos e técnicas, bem como das necessidades sociais. Por isso, o trânsito entre os núcleos deve ser bastante livre, isto é, o currículo deve ser feito dentro de uma organização profissional includente e aberta, e de sua otimização.
Com isso, deve-se procurar uma tensão e um equilíbrio entre os novos conhecimentos e técnicas, e as demandas sociais. A inclusão social é que irá dizer, pela demanda do conhecimento, da adequada formação de cada pessoa. Hoje, em muitos casos, lançam-se as pessoas no mercado com os diplomas, que não mais correspondem ao conhecimento demandado. Por outro lado, deve haver um equilíbrio entre o conhecimento demandado socialmente e a livre pesquisa e inovação, inerentes à universidade. A aplicação sempre resulta de teorias e pesquisas paradigmáticas. A universidade deve produzir um conhecimento expansivo e inclusivo, ao mesmo tempo que se deve tornar também o lugar por excelência de um saber que leve cada um a uma aprendizagem. Só assim será uni-versidade, ou seja, um verter em direção ao todo, ao uno. Os núcleos devem conter e integrar os conhecimentos e o saber.
Com os núcleos, o aluno teria sempre possibilidades abertas de fazer novas disciplinas, até ser incluído social e profissionalmente. A nova organização do conhecimento, seu acesso e disponibilidade, não trariam tantos custos e otimizariam o desempenho de cada um. A duração dos cursos dependeria dessa dinâmica de formação pessoal e demanda profissional, claro, com exames para avaliar o aproveitamento e mostrar até a necessidade de redirecionamento dos estudos, quando o aluno notar a sua inadequação ao que escolheu, e com metas de estudo e duração adequadas. Nesta nova dinâmica, o vestibular se torna obsoleto. O acesso universal seria regulado pela capacidade de acompanhamento e aprendizado, comprovado em exames rigorosos.
A duração mínima ou máxima seria determinada pelo progressivo domínio das cinco dimensões, podendo, o aluno voltar livremente à universidade se constatasse que não consegue passar ou que está desempenhando mal uma ou mais dimensões em relação ao conhecimento que lhe é exigido profissionalmente. Essa constatação é que determinaria a escolha do núcleo ou uma ou mais disciplinas dentro dos núcleos. Os núcleos se constituiriam em rede, de tal maneira que o aluno pudesse ficar dentro do mesmo núcleo ou se inter-relacionar com os que achasse necessários. As atuais disciplinas se organizariam em torno dos diferentes núcleos. E aí seria notada a duplicação ou não. Com isto muitas podem ser suprimidas ou criadas novas.
Há um fato novo hoje muito patente: dependendo da disciplina, muito dos seus conhecimentos se tornam obsoletos diante de novas pesquisas e descobertas. Por que continuar a ensinar o que não é mais necessário? Esse aspecto da cultura precisa ser mais estudado e aprofundado. Esses conhecimentos ficariam na “memória”, para possíveis consultas, mas não seriam mais exigidos dos alunos. Mas isto depende muito dos núcleos de conhecimentos, pois o desempenho se nutre de um duplo processo: alimentação e metabolização do que se estuda. Ninguém tende a pensar e a raciocinar sem leitura e estudo que alimentem.

10 – Os núcleos

Hoje, a realidade cultural de cada povo passa por grandes transformações, em virtude do impacto revolucionário da computação no modo de produção, acumulação e transmissão dos conhecimentos e do exercício das profissões. E até no modo de conceber e experienciar o real e a própria realidade humana. Os meios tradicionais de acumulação e circulação, por conseqüência também da produção, tornam-se rapidamente obsoletos. Disto resulta que o passado perde em muito o seu valor de referência. Novos paradigmas têm de ser criados. Contudo, isto não ocorre em todos os saberes e conhecimentos, como, por exemplo, os das artes. Por isso, os núcleos não podem ser tratados através de uma idéia padrão. Deve haver di-versidade e riqueza na estruturação dos núcleos.
Esta realidade nova torna ainda mais complexa a reformulação dos currículos, indo muito além de uma mera redistribuição da grade curricular. Nesse sentido, qualquer reformulação pode-se tornar rapidamente obsoleta. É necessário prever uma grade dinâmica que esteja aberta às rápidas e grandes transformações por que passam os conhecimentos e as profissões. A par disso, assistimos ao esfacelamento da organização do conhecimento em múltiplas disciplinas estanques. Esse modelo levou ao paradoxo da especialização, tornando patente a sua necessidade e ao mesmo tempo as suas contradições. Aqui coloca-se a necessidade de se repensarem profundamente as relações em quatro níveis: a) as partes e o todo, e o todo em cada parte; b) a realidade-mundo, o conhecimento e o saber; c) a realidade-mundo, o conhecimento e o saber, diante do não-saber. Este é a presença inequívoca dos vazios da rede, dos seus buracos, do silêncio gerador das falas. A rede com seus nós e fios é uma doação do vazio. O “inter/entre” aponta para esse vazio. Ele é uma dimensão nova a partir da qual se devem estabelecer diálogos abertos com o não-saber, com o vazio, com o próprio desafio do infinitamente pequeno e do infinitamente grande, com a complexidade da grande unidade que perfazem a natureza e o ser humano; d) pela abertura para uma nova postura entre os procedimentos da análise e da interpretação, onde o físico-orgânico, o biológico, o social, o psíquico, o poético-artístico e a memória sejam horizontes complementares. A sociedade em rede se constitui de sintaxes discursivas de conhecimentos emuldurados por vocabulários específicos. Tudo isso dificulta a comunicação e a convivência social.
Em última instância, todo conhecimento quer dar conta da realidade. A segmentação disciplinar exacerbada resultou, em muitos casos, em intransitividades, não da realidade, mas das disciplinas como teorias de conhecimentos. Os limites formais extremos exigiram a construção de pontes de acesso a campos que, supostamente, seriam de outras disciplinas. O avanço dessas disciplinas pressupõe o avanço con-junto. Só assim se retoma o horizonte de visibilidade, re-inserindo a atividade de aprendizado, prática profissional e produção do conhecimento no horizonte da realidade cultural global, para assegurar cada vez mais as diferenças e, ao mesmo tempo, a promoção de inclusão do ser humano como identidade no corpo social.
A esse agir con-junto pode-se chamar interdisciplinaridade. Tome-se, porém, cuidado. A justaposição de disciplinas não institui a inter-disciplinaridade, assim como a justaposição desordenada de tijolos num terreno não constrói e constitui, por si, uma casa. Na e pela casa os sistemas de relações e de conhecimentos são redimensionados na medida em que a casa se torna um lugar cujo sentido, como um todo, lhe é dado pela linguagem e não pela soma de discursos ou vocabulários. A linguagem é a identidade das diferentes redes, das relações e até dos vazios das redes e do silêncio das falas, onde o ser humano perfaz sua realização. Ela é, portanto, uma re-ferência para além dos conhecimentos técnicos e culturais diferentes. Como origem, a linguagem é a mãe de todos as línguas e vocabulários.

11 - Núcleos e inter-disciplinaridade

Na inter-disciplinaridade há dois pólos de referência:
1º) o das disciplinas e seus conhecimentos. São as diferentes redes com seus nós;
2º) o do “inter”, palavra latina que significa “entre”, e que referencia o silêncio das falas e os vazios das redes, ao mesmo tempo que é ponte das disciplinas. É que o “entre”, por ser “entre”, é sempre ambíguo. A realidade-mundo no seu todo é constituída em redes, fios, relações e vazios.
Quanto às disciplinas: O pólo das disciplinas poderíamos definir assim: são conhecimentos constituídos dentro de uma determinada teoria e visão do real, apreendidos e desenvolvidos em consonância com uma determinada teoria, paradigma e método. O método está estreitamente relacionado à teoria e esta ao método. Uma vez que método significa caminho-entre, poderíamos reunir as disciplinas quando perfazem o mesmo caminho ou caminhos ou discursos semelhantes, não esquecendo que estes caminhos/discursos são sempre caminhos do real, no real e para o real. Partamos da rede de conhecimentos. Centralizemos a nossa atenção nos fios da rede. Estes são: caminhos, conhecimentos e percursos do real, no real e para o real. Já podemos perceber que os fios se entrelaçam e se ligam por nós. Cada nó congrega diferentes fios. Um núcleo pode ser a confluência de nós e fios. O que identifica os nós e os fios? 1º. O discurso; 2º. A sintaxe; 3º. O caminho/teoria. Não são os conhecimentos, em primeiro lugar, que devem determinar ou ser princípio de constituição dos núcleos, mas as três características anteriores. Horizontalmente, a interdisciplinaridade deve necessariamente surgir desses entrelaçamentos, que constituem a rede e cobrem e apreendem dimensões do real, do social e do humano (ecologia em sentido profundo).
A circulação dos conhecimentos e sua apreensão pelos alunos deve ter sempre em vista essa idéia de rede em movimento e constituição como circulação. E há outra idéia básica e fundamental para bem apreender a dinâmica das disciplinas e dos núcleos: essa rede é virtual, ou seja, constitui-se no circular dos conhecimentos e discursos. Este circular deve deixar de lado o que ficou obsoleto, ou seja, deve ser sempre uma memória viva. O domínio dos discursos passa a ser fundamental. Significa então as cinco características a serem desenvolvidas em cada aluno/ser humano e no todo social, preservando os ecossistemas. Com isso se abandona de vez um princípio organizacional dos conhecimentos hoje ultrapassado: o da linearidade cronológica e causal. Isso é um ranço metafísico, ultrapassado por cada nova descoberta e configuração de conhecimento em rede, onde o “passado” não é determinante, mas o alcance dos pardigmas. O real virtual está em tensão com o real poético, no mover-se e no circular vivo, contínuo e concreto do saber e conhecimentos na rede, onde o “passado” pode se tornar um obstáculo e perda de tempo para o aluno, porque não implica seu conhecimento num relacionamento com o funcionamento atual da rede e com a possível inserção social e atuação nela.
A presença do passado será determinada pelas necessidades presentes e não como um a priori de iniciação nos conhecimentos. Mas, por outro lado, a definição de passado e presente também não pode ser historiográfica e causal. Como memória, não existe passado, mas algo já presentificado. Por exemplo, o conhecimento do grego e do latim é de uma atualidade sem par para o diá-logo de pensamento filosófico, literário e artístico com as criações gregas e latinas. O mesmo se pode dizer do hebraico para os estudos bíblicos. São memórias vivas e não simples conhecimentos “passados”. Ou seja, cada conhecimento articula discursos e ocupações de espaços na rede da realidade-mundo, dentro de uma dinâmica que ultrapassa a historiografia. Hoje, as diversas histórias e as novas narrativas provam isso.
Na realidade, o que é fundamental para o aluno seria um questionamento do tempo e dos discursos em torno dele. As disciplinas têm, pois, uma relação próxima muito tensa, rica e dinâmica. Certamente, nesta configuração, muitos conhecimentos das disciplinas têm que ser reconfigurados e até abandonados. É importante perceber que o conhecimento em rede não se dá na dinâmica de seu trafegar e circular no acúmulo de dados, mas muito mais, por parte do aluno, no desenvolvimento das cinco dimensões. Até porque, hoje, os conhecimentos são facilmente acessíveis nas diversas redes e bancos de dados. O que esses bancos de dados não dão é o “inter”. O que é o “inter”?

Quanto ao inter/entre: O “inter” da inter-disciplinaridade (entre) pode ser entendido em dois sentidos.
a) Na rede diz respeito ao “fio” que une os “nós”, constituindo a “rede” ou “teia”. Um tal “inter” remete para “dis-cursos” processuais pelos quais se constitui cada organismo e os organismos entre si, em auto-organizações. O “lugar’ de um tal “inter” é dado pelo paradigma a partir do qual os nós e redes são dis-cursados e compreendidos. É um tipo de interdisciplinaridade paradigmática, que pode funcionar nos modelos científicos, nos conhecimentos conceituais.
b) Mas há outra interdisciplinaridade, na qual o “inter” apresenta um outro sentido. Para melhor entender este “inter” partamos de duas imagens ou metáforas. Uma imagem não é conceito. Ela abre o pensamento para o aberto das possibilidades, sendo, por isso, portadora de uma dinâmica criativa e questionante. Então estamos diante das questões.
Podemos comparar o “inter” a uma ponte. Esta supõe dois campos (disciplinas) que ela liga, mas também e, sobretudo um espaço vazio que possibilita a ponte ser ponte, a partir do qual se percebe o lugar, o recorte de cada disciplina. Este espaço vazio que nenhuma disciplina recobre também é real. Aliás, é nele e por ele que se percebem as diferentes disciplinas e o sentido da sua direção e afirmação. Na imagem da rede, seriam os buracos e o que permite à ponte tornar-se ponte. Este vazio é o horizonte a partir do qual cada disciplina se institui e estrutura como disciplina. Não é a disciplina que estrutura e institui o vazio do entre nem o buraco da rede. Sem este entre não há disciplina assim como sem buracos não há rede. Logo, toda rede se constitui no e a partir do “inter”, do entre. Que “entre” é este tão importante?
A articulação dos tijolos para a construção de uma casa, previamente, só é possível porque há um vazio que possibilita o aparecimento da casa enquanto casa e não de um simples amontoado de tijolos. A casa é, em si, uma figura ofertada pelo vazio, sem o qual a casa não seria casa. A casa enquanto casa se funda no “inter”. Notemos que os tijolos manifestam a visibilidade da casa, mas eles, em si, não são a casa, nem o vazio. Precisamos dos tijolos para a visibilidade tanto do que se mostra, a casa, como do que não se mostra, o vazio, ou seja, a rede em movimento só é possível ser apreendida e manipulada e discutida e modificada na medida em que nos abrimos para a presença ausente do vazio, dos buracos da rede, até como possibilidade permanente de invenções e projeções. A rede de conhecimentos não aumenta por si, é uma doação do vazio, que se retrai para a rede se constituir e aparecer. Os conhecimentos são uma doação do não-saber. Esta dinâmica é muito fácil de perceber se notarmos que cada um já constitutivamente é e não-é, sabe e não-sabe, vê e não-vê, fala e escuta a partir do silêncio.
Nesta perspectiva, não há uma hierarquia entre um antes e um depois (rede), porque simplesmente não há um antes e um depois. Há a casa constituída por tijolos e sua figura disposta e ofertada pelo vazio, assim como há a rede constituída e seus discursos de conhecimentos dispostos e ofertados pelo vazio. Na realidade, há sempre as disciplinas e discursos e o “inter”, o “entre”. Conhecer, em realidade, é dominar o visível, o orgânico-sistêmico, em direção sempre ao não-visível, ao não-orgânico, ao não-sistema, horizonte de realização do humano do homem. Deles podemos apenas ter um saber. Deste não pode haver um aprendizado, só uma aprendizagem. Esta é a matéria-prima das obras de arte, pois elas se movem nas questões. Por isso, não podem ser reduzidas a conceitos e qualquer discurso ou vocabulário científico lhe é estranho. Para isto existem as pesquisas e não apenas o ensino do já visto e sabido.
As casas variam muito de figura. O vazio das figuras é dinâmico. As pontes podem também, como as disciplinas, serem múltiplas. Elas serão erguidas onde se fizerem necessárias, como conexões nos limites das disciplinas e dos discursos. Mas cobram seu sentido não dos conhecimentos em si, mas do pensar no qual pode eclodir o sentido e a plenificação do ser humano e do corpo social. Ou seja, há os seres humanos, as redes sociais, a rede de conhecimentos e o vazio, no qual e a partir do qual se constituem as casas e seus habitantes: os seres humanos e as sociedades. A essa casa em rede podemos chamar sociedade humana ou corpo social e corpo da mãe-vida, mãe-Terra (Gaia). Nesse sentido, otimizar as dimensões humanas é o fim de toda otimização dos conhecimentos em rede, na medida em que podem fazer eclodir o ser humano em sua singularidade auto-poiética, no que no homem é o humano, enquanto ser sábio e ético. Por isso, não pode haver separação entre uns e outros.
Quem pode cumprir esta tensão de identidade como rede das diferenças é a uni-versidade, dando conta e promovendo a di-versidade. Este é o único fundo que deve presidir à distribuição dos conhecimentos em núcleos. A interdisciplinaridade pressupõe pontes. A estas pontes chamamos núcleos ou nós na rede. Cada ser humano como ser do entre, do limiar de finito e não-finito, de saber e não-saber encontra a sua essência nessa tensão, uma essência não dada, mas construída em consonância no que nele é projeto de ser. Esta tensão deve ser o horizonte de uma uni-versidade plena, onde conhecer, saber e ser se reúnam harmonicamente.
Para constituição dos nós/núcleos não se pode partir dos conhecimentos em si, mas de duas coordenadas: 1ª. A uni-versidade como identidade de di-versidades; 2ª. A tensão entre/conhecimentos e saber, tendo como objetos/sujeitos desse processo os seres humanos, seus lugares, seus mundos e a Terra. Temos então como metas:
1ª. A otimização das dimensões humanas;
2ª. A inclusão social;
3ª. A harmônica operacionalização da rede em tensão com as sempre novas possibilidades do “inter”;
4ª. A otimização da rede em seu operar e circular para uma interação dos seres humanos em sociedade e do lugar dos conhecimentos, de uma tal maneira que haja uma circularidade recíproca;
5ª. A preservação dos ecossistemas como poético-ecologia.
A rede nunca poderá estar a serviço de interesses corporativos, de exclusão social, de destruição das condições ecológicas. A rede deve se mover, crescer e constituir num horizonte ético em que os conhecimentos e saberes se dimensionem pela otimização das potencialidades de todo ser humano, promovendo, sem uniformidade, tanto as diferenças quanto a fraternidade poético-ecológica.

12 - Os três níveis dos núcleos

Por sua vez, cada núcleo teria três níveis em suas disciplinas:

-1º. domínio dos conhecimentos enquanto conceitos básicos e seu questionamento;
-2º. domínio das variações dos conceitos presentes em diferentes pesquisas e teorias, e seu questionamento;
-3º. abertura para a pesquisa, que corresponderia hoje aos cursos de pós, com predominância do questionamento e de propostas de inovações teóricas e realizações poético-criativas. Neste sentido, os conceitos seriam continuamente referenciados às questões básicas que deram e dão origem aos conceitos e à sua transformação e expansão contínuas.

Portanto, o ponto de partida dos núcleos deve se centrar em questões, a que as diferentes disciplinas procuram responder e corresponder. A dinâmica histórica em todas as disciplinas mostrou que as questões básicas continuam sempre, mudando ou se ampliando apenas as teorias, os paradigmas e os conceitos.

13 – Os núcleos e os currículos

Uma grade curricular montada em disciplinas é uma, em núcleos é outra. Os núcleos são dinâmicos, como hoje o é a rede da sociedade do conhecimento, pois possibilitam diferentes ligações e percursos com diferentes disciplinas. Uma disciplina pode ser substituída por outra ligada ao núcleo. O que determinará essa composição e modificação serão as metas acima expostas da uni-versidade na di-versidade. Estas determinarão a constituição e troca das disciplinas e até a criação de novos núcleos e, ainda mais importante, a necessária “inter”-ligação dos núcleos, atendendo às demandas sociais e às transformações político-históricas. A vantagem é que essas trocas, previstas nos núcleos, são automáticas e rápidas. A burocracia nunca poderá impedir essa dinâmica nem a formação de pequenos grupos de poder institucionais.

14 – A universidade e a liberdade

Fica evidente que é fundamental, para que haja uma nova universidade que atenda a toda essa complexidade, a mais ampla e responsável liberdade de atuar, pensar, pesquisar, inovar, questionar, diferenciar, dialogar.

15 – Conclusões

Partindo destas reflexões concluímos que:
- 1º. a grade curricular deve ser montada, tendo como referência núcleos;
- 2º. são os núcleos e não as disciplinas isoladamente que devem atender ao binômio fundamental formação humano-profissional e inserção social;
- 3º. a obrigatoriedade giraria, essencialmente, em torno dos núcleos e só, acidentalmente, de disciplinas, sempre de acordo com o binômio fundamental e a especificidade da profissão;
- 4º. a programação de disciplinas por semestres ou anualmente atenderia à dinâmica dos núcleos, isto é, os responsáveis pelos núcleos é que elegeriam o elenco de disciplinas a serem oferecidas, podendo variar de semestre para semestre ou de ano para ano. Este oferecimento teria como parâmetro a dinâmica humano-profissional e necessidades sociais. Uma pré-matrícula de preferências dos alunos daria os parâmetros da inclusão ou exclusão do oferecimento das disciplinas;
- 5º. aos núcleos poderiam ser sempre acrescidas novas disciplinas e inter-conexões com novos núcleos de acordo com a dinâmica da demanda e da otimização da formação humano-profissional e social;
- 6º. uma vez que a formação deve ser humano-profissional, os núcleos deveriam atender também a essas duas facetas. Ao aluno caberia, pelas escolhas, acentuar um ou outro aspecto sem perder o equilíbrio. O exercício profissional deveria estabelecer os conhecimentos necessários, mas não perdendo de vista um equilíbrio com a formação humana. Isso só aparentemente tornaria mais longo e mais custoso a formação profissional, porque uma pessoa satisfeita e inteira em seu ser é sempre um melhor profissional e se insere mais rapidamente na práxis social;
- 7º. as profissões baseadas em conhecimentos estanques estão hoje sendo rapidamente ultrapassadas e cada vez mais se exige uma formação interdisciplinar para atender às novas demandas sociais. A abertura dos núcleos atenderia perfeitamente a essa dinâmica;
- 8º. todo currículo, de acordo com cada profissão, deveria ter uma obrigatoriedade mínima e uma escolha livre e ampla. A realidade social e suas demandas com as tendências e desejos pessoais é que seriam os parâmetros para o percurso do curso e, evidentemente, a otimização do desempenho profissional;
- 9º. o preenchimento das vagas nos concursos sempre deveria constar de três partes nas quais fossem avaliadas numa profunda interligação:
- a) a formação humana;
- b) a competência profissional;
- c) a inclusão social.
Que adianta ter um excelente técnico desajustado como ser humano e numa sociedade cada vez mais piramidal?
- 10º. A liberdade inerente aos núcleos deveria ter como contrapartida a qualidade, pressuposta num número mínimo significativo de créditos e rígida avaliação. Essa liberdade seria um motivo a mais para a mais rápida conclusão da(s) habilitação(ões). Nesse sentido, o currículo deveria constar de um mínimo e de um máximo em aberto. Com isso, a dinâmica do conhecimento em rede determinaria para cada um a sua otimização e inclusão diferenciada. Isso evitaria a descontinuidade entre os cursos da universidade e a dinâmica geométrica do conhecimento em rede. É importante acentuar que o aluno chegado a determinado nível não precisa mais de aulas expositivas, mas de aulas de discussão dialogante e de domínio de vocabulários. Para isso é fundamental atentar para uma nova dinâmica do ensino, em consonância com as novas realidades no que diz respeito à acumulação, transmissão e produção dos conhecimentos;
- 11º. a contrapartida docente seria uma necessidade de atualização permanente, em consonância com a própria dinâmica do conhecimento em rede para uma sociedade do conhecimento humano e social
- 12º. A concepção do ensino tradicional baseada na oposição sujeito/objeto, professor/aluno deveria dar lugar a uma concepção poético-circular, mediada pelo diálogo, pois o que cada um conhece e sabe é sempre diferente, mas o que identifica a todos é o não-saber. É deste que falamos quando nos referimos ao vazio da rede. O não-saber é a possibilidade de chegar a ser o que ainda não se é;
- 13º. o pano de fundo desta dinâmica passa necessariamente por um estudo e questionamento do real, da pólis e suas políticas, e do ser humano, tendo em vista as seguintes dimensões interligadas: conhecimentos, tempos, linguagens, discursos, memória, identidade, diversidade. Para isso é necessário ter sempre presente a questão que funda essas dimensões em sua variação: que o real é ao mesmo tempo mudança e permanência. E que estas são experienciadas sempre em todos os lugares e tempos como liminaridade de limite e não-limite. Essa ambigüidade fundamental deve ser o pano de fundo em que se inscreve uma nova uni-versidade, para dar conta da di-versidade sem cair num sistema estanque nem num relativismo sem consistência;
- 14º. Neste pensamento que pensa a interdisciplinaridade em sua plenitude fazem-se presentes as dimensões poéticas.

Rio de Janeiro, 01 de março de 2006

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