É muito fácil ao ser humano transpor para "Deus", que não deve nem pode ser um nome entre nomes, mas o mistério, problemas do seu âmbito de ação e comportamento. Por isso vemos que há uma insistência em querer atribuir a "Deus" qualidades ou atributos estritamente acidentais, que só podem dizer respeito ao ser humano. Não é melhor o respeito do silêncio? O acolhimento de sua presença e sentido?
Deus é fiel. Eis uma afirmação inútil e perigosa. "Deus" não é fiel nem infiel. "Deus" não é, pois se fosse seria um "ente" entre outros "entes", e não "Deus". Como "Deus" ele já contém em-si todas as qualidades ou, o que dá no mesmo, nenhuma. Ele é uno, bom, belo e verdadeiro, de uma maneira absoluta. "Deus" é fiel ou infiel, no fundo, dá no mesmo, pois tais adjetivos ou atributos nada dizem quando se trata de "Deus", que melhor seria denominar "Mist´rio". Por isso "Deus" não é fiel ou infiel, porque não "é". Só o ser humano, que "é", pode ser fiel ou infiel. Por que não acolher "Deus" como o vigor do silêncio e deixar que escutemos, fiel ou infielmente, o mistério da sua voz e assim nos tornemos humanos? Humano? Sim, o deixar acontecer o mistério que leva cada um à dignidade do que é., acolher, enfim, a claridade de sua verdade, habitar nela, tornando-a o sentido de nosso viver. E mais: unir-se e reunir-se a todos os seres num hino de louvor e gratidão, sem julgar aos outros, numa procura incessante do que recebemos para ser. Nisso podemos ser fieis ou infieis, fracos, débeis, finitos. Até para nos sabermos infieis e finitos já temos que ter a abertura, que só o Mistério nos pode conceder, e concedeu por simplesmente sermos humanos, de sua presença. Experienciá-la é que é ser fiel, grato. Rio, 03-11-07
2 comentários:
Acho corajosa e valiosa sua abordagem Professor, já que a frase DEUS É FIEL sempre me pareceu fazer parte da prepotência do homem em achar que pode criar slogans diagnosticadores para tudo..até para Deus. Acredito assim que cada um possa procurar Deus em si mesmo e retornar com esta potência imensa de dentro para fora, conseguindo originariamente amar a si mesmo na forma de auto- respeito e valorização do que SE É e do que se pode SER em estado de constante busca de crescimento, bem como facilitaria o amar ao próximo incondicionalmente(seja ele outro Ser ou Natureza) Cilchrysti
Caro Professor, o caminho para chegar até aqui foi todo feito através de pontes. Tudo por causa de um urutau ou o mãe-da-lua-parda que o tio Google me trouxe ao poema "Ó lua, parda lua / vai ao alentejo, vai / já que eu não posso ir, / dá saudades a meu pai! e ao blog onde descubro que o senhor também fez sua leitura do Grande sertão: veredas, do homem provisório, o homem em construção e onde escolho dentre outros títulos, ler "'Deus' é fiel" porque precisava respaldar minha própria irritação ante tal afirmação e já intuía de antemão o que leria. Maravilhoso este mundão virtual de Deus, manifestando tanto conhecimento. O deus que habita em mim o saúda!
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