Dialética, logos, lógica
Manuel Antônio de Castro
Dialética
O
primeiro grande pensador da dialética foi Heráclito. E como pensador originário
ele será sempre a referência obrigatória para toda a posteridade e não, como
geralmente se pensa, a dialética hegeliana. Tomando esta como referência, reduziu-se
a dialética a método. Se tomamos este no significado lógico-matemático moderno,
apriori que determina o que é a
verdade da realidade, a dialética não será método. É a partir dele que se
procura conhecer e interferir no acontecer da realidade, inutilmente, pois tal
método fundamenta-se no conceito, na representação e no cálculo. E a realidade
é mais. Desde Heráclito a grande questão da dialética é a verdade como aletheia, enunciada na sentença 123: Physis kryptestai phylei: A realidade desvelante
apropria-se no velar-se. Mas método deve ser tomado no que a própria palavra,
fundada no logos, diz. Método é metá-hodos: pôr-se a caminho da escuta
do logos, conforme o pensador
Heráclito nos propõe na sentença 50: Auscultando
não a mim, mas ao logos, é sábio concordar que tudo é um. O pôr-se a
caminho do logos, da linguagem,
concretiza-se no diálogo.
Assim
se originou a palavra dialética: em grego, o sufixo –ikos, e, on (m/f/n) forma adjetivos a partir de verbos. Neste caso, o verbo é dia-legein. Tal sufixo indica o ser apto
para o agir expresso pelo verbo de onde se forma. Dialeti-ké diz a qualidade de ser apto para o diálogo. A
denominação morfológica de substantivo ou adjetivo provém da gramática,
fundamentada na proposição. O substantivo nomeia o ente e o adjetivo
(predicativo) uma qualidade ou atributo seu. Porém, o núcleo da proposição é o
verbo e não o substantivo ou atributo, daí o sufixo –ikos, e, on, referir-se
ao agir dos verbos. Contra o pensamento lógico-gramatical, nem tudo é redutível
a entes-substantivos. Isso é decisivo para compreendermos o que seja dialética.
Esta remete sempre para um pensar verbal. Exemplos de “substantivos” não entes:
a claridade, o mundo, o logos, a
ideia, o humano, o justo, o belo, o bom, o uno, o verdadeiro, o poético etc.
Por quê? O substantivo, sendo conceito, logo, representação, oculta e esquece o
acontecer da realidade. Este, por ser verbal, é questão. Disso decorre que
pensar a dialética é pensar o diálogo na dinâmica do questionar. Não há
dialética sem diálogo. A essência deste é a escuta do logos. E a dialética é o agir do diálogo, isto é, do tempo enquanto
linguagem, verdade, sentido e mundo. O diálogo não pode ser pensado desligado dessas
questões essenciais. É que nelas acontece a realização do humano, numa
dialética concreta e histórica. Portanto, o humano acontecerá no pôr-se a
caminho do que já recebeu para ser: seu próprio. Caminhar é eclodir na verdade.
Isso é o libertar-se para o que é. Todo caminho implica necessariamente tempo, sentido
e mundo: liberdade. Diálogo e dialética se implicam mutuamente. Na dialética é
o próprio destinar-se do ser que se doa e acontece, sempre aberto e inesperado,
segundo o próprio Heráclito: Se não se
espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminho de encontro nem vias de
acesso (Heráclito, 1991, frag. 18, 63).
Diálogo,
compõe-se do prefixo diá- e do verbo legein. O prefixo indica a conjuntura em
que a ação verbal acontece, onde jamais haverá separação entre a conjuntura e o
acontecer da realidade (physis). Diá- nos
remete para o considerar de um e de outro
lado, expressando tensão ontológica de limite e não-limite, de ser e
não-ser, sempre num entre abismal e
inesgotável. Já o verbo legein, em suas
derivações etimológicas, assinala a própria dinâmica da realidade, dizendo: pôr, depor, dispor, propor. Por isso legein pode significar: reunir, dizer, enumerar, narrar, assentar-se,
repousar. Trata-se no diálogo e na dialética de um acolhimento das
diferenças na identidade, que não só aceita as diferenças, mas promove
necessariamente a diferenciação. Eis a lei da dialética, na concreticidade
universal do diálogo. Todo diálogo verdadeiro é um exercício de escuta de um eu e de um tu ou de auto-escuta, a
partir do logos, no que cada um é em
sua verdade. Quem funda o diálogo é o ser que vigora como possibilidade de
realização do “eu” e do “tu”, do “eu” e do “sou”. Isso é tematizado no conto “O
espelho” (Rosa: 1967, pp. 70-78).
Para
indicar a unidade e diferença de eu e tu, para além de uma relação subjetiva ou
objetiva, diálogo e dialética provêm do verbo grego dialegein na voz média: dialegesthai. A voz média difere da voz ativa, pois naquela
o sujeito é tanto agente quanto paciente. Na voz média, a ação do verbo
assinala um experienciar-se mútuo concreto. Isso é a essência do social. No
diálogo poético da dialética, cada um e todos estão implicados em seu sentido
de realização e libertação conjuntural e histórica. A realização de cada um implica
a realização de todos e a de todos a de cada um, onde o horizonte do agir é o
ser.
Dialética
é caminho de realização histórica do próprio. Este é uma doação do ser:
possibilidades de e para possibilidades. Nessa caminhada, a dialética é o contínuo
estar em crise, depondo o realizado e abrindo-se para novas realizações. É isso
que significa krinein/discernir, de
onde se formou crise e crítica. Criticar é o operar poético da verdade da
realidade enquanto aletheia. Dialética
é diálogos porque é aletheia. O seu acontecer como
realização do humano é a dianoia: o
pensar-se e saber do ser no não-saber do abismo do nada criativo. Em última
instância, este é a morada, o ethos, a
morada do extraordinário. Habitar é deixar-se tomar pelo sentido e verdade do
ser: a linguagem.
A
expansão global da ciência ocidental desencadeou uma crise ética global, que
desintegra a verdade dominante na realidade. É o jogo astuto da verdade (aletheia). Desintegra para integrar em
novo nível o humano em seu sentido, verdade, mundo. Toda negação gera uma afirmação
que reintegra em outro nível, num permanente acontecer dialético. Trata-se de
um desafio contínuo de agir realizando o que é e não é, fundados no nada
criativo. Assumindo a crise, não podemos jamais querer ressuscitar o que se metamorfoseou
em sistemas prontos, acabados. A dialética da realidade é sempre aberta e
inesperada. O real como realização da realidade não pode caber em nenhum
sistema. Onde há sistema não pode haver dialética. Em lugar da qualificação da
dialética: platônica, hegeliana, marxista etc. deve vigorar o caminho
libertador do questionar, pois este joga a dialética em sua essência: o
diálogo. Questionar é experienciar-se dialogalmente, onde os dialogantes se
abrem para a escuta do operar da linguagem: sentido e mundo da realidade
acontecendo. É o experienciar da aprendizagem.
Logos
Caso se quisesse caracterizar o
Ocidente com uma única palavra, esta seria:
logos. Qualquer tradução que dela se proponha é insuficiente. Logos, como o Tao chinês, disse Heidegger, é intraduzível. Levar o leitor a
apreender essa intraduzibilidade e a tomar conhecimento das vias que suas
traduções abriram no Ocidente é esta a
difícil tarefa. O maior pensador do logos foi Heráclito, denominado, em
vista disso, o obscuro. Só se adentra
o logos pensando e escutando a força da
presença constante do silêncio, plenitude e fonte de toda fala.
Com o surgimento das Escolas helenísticas, do logos originou-se a lógica, tendo a pretensão de
se tornar o paradigma único da verdade (o que não for lógico será i-lógico, afirma-se). Daí surge a dicotomia em que se
fundamenta o Ocidente metafísico: o logos
dá origem à lógica e depois esta passou a determinar – pelo critério do lógico
ou verdadeiro – o que é o logos. Ou
seja, tudo no Ocidente gira em torno da questão da verdade. Falar da realidade,
do ser, é sempre já estar pensando a questão da verdade. O que verdade implica
torna-se a questão, porque verdade é ser se manifestando e jamais alguma
adequação lógica, representacional. Ela é tão misteriosa como o próprio ser, do
qual sempre já estamos próximos e distantes, porque a maior proximidade
possível da verdade ainda é a não-verdade do sentido do ser. E isso é o logos, pois o ser é princípio (arché) e sentido
(telos). Daí se originou a tradução predominante: fundamento, em grego, hypokeimenon.
O abandono, aproximadamente desde o Helenismo, da aletheia pela lógica gerou o esquecimento do sentido do ser e, com
isso, a compreensão invertida do que os pensadores originários diziam com logos. Nestas poucas indicações é impossível
comentar tudo isso. Fica o convite ao pensar. Eis algumas traduções: 1) Fundamento;
2) Unidade; 3) Razão; 4) Necessidade/Lei do mundo; 5) Lógica; 6) Linguagem; 7)
Palavra/Deus; 8) Língua/código; 9) Fala/discurso; 10) Signo/semântica 11)
Coletividade. Podemos reunir estas traduções em três grupos. 1º. Diz respeito
ao logos quanto à questão do princípio de tudo, dando origem às traduções: 1, 2,
3, 4; 2º. Verdade: 5, 6; 3º. Dependendo da ambiguidade do segundo, ao narrar ou
discursar: 7, 8, 9, 10, 11. Então, segundo a determinação do que seja verdade,
os grupos primeiro e terceiro serão lidos de uma maneira até oposta. Porém, o
que aí se decide é algo radical: o que seja ser/realidade e ser humano. Este horizonte
das traduções foi esquecido e elas passam a bastar-se por si mesmas, como,
absurdamente, se auto-originassem. Contudo, essas duas questões não podem ser
separadas, o que acontece desde que se instituíram as disciplinas e no lugar de questão só se fala de conhecimento
disciplinar. Porém, a questão de todo
pensar originário e poético será sempre a referência de Ser e Essência do
homem. Esse “e” não é partícula gramatical. É o abismo em que desde sempre nos
vemos projetados como entre-ser. No
fundo, esse “e” é o logos, daí ele
tanto se referir ao Ser quanto ao homem.
Para adentramos essas questões, tomemos uma
sentença grega e suas traduções. Estas implicam as questões, pois traduzir é
interpretar, que é a escuta do sentido do silêncio, da linguagem. Para
interpretar já devemos vigorar no Ser. A sentença define o homem: Dzoion logon echon. A tradução latina,
esquecendo o vigor do logos, propõe:
(Homem) animal rationale, animal
racional. Uma outra tradução diz: (Homem) animal que fala. As duas traduções só aparentemente são diferentes,
pois a razão causal e científica determinará o que se entende por fala ou discurso. Não podemos reduzir dzoion
a animal e logon a racional. Dzoion é Vida. Os latinos reduziram physis a natureza. Pela lógica, ela é composta de seres inanimados e
animados. E estes divididos em racionais e irracionais. Isso é classificação
científica, racional. Logos foi
traduzido por ratio, razão. E esta se
tornou a causa, isto é, o fundamento do universo. O fundamento teve duas versões. Pela
primeira, torna-se Deus/palavra. Dominou
desde a implantação do Cristianismo até a Modernidade. Apoia-se, sobretudo, no início
do evangelho de São João (90 d. C), quando afirma, referindo-se a Cristo, filho
de Deus: “En archei ho logos”. “No
princípio era a Palavra”, traduz-se. Temos aí a ligação do primeiro grupo
com o terceiro: fundamento e linguagem. Ele escreveu no grego da Koiné, isto é, do Helenismo (300 anos
a.C). Estava aberta a possibilidade para a outra tradução: “homem, animal que
fala”, pois ele é uma criação de Deus/fundamento. Quando a Modernidade
substitui a teo-logia pela antropo-logia, o fundamento/logos torna-se razão. Criador,
causa. E a linguagem passa a ser
fundamentada pela ciência linguística. Como
o conhecimento científico é essencialmente funcional,
a linguagem reduziu-se às suas funções comunicativas e sociais, isto é, ao
discurso. Quando o fundamento tornou-se causa (ratio/razão), todo objeto do conhecimento científico passou a ser
estudado pelo princípio das quatro causas: material, formal, eficiente e final,
proposto por Aristóteles. É uma confusa mistura de noções. Matéria passou a ser
confundida com linguagem e conteúdo, forma com meios, eficiente com
subjetividade, final com função e meta. E é isso que é ensinado hoje, onde o logos originário de Heráclito ficou
esquecido.
É
do verbo legein que depreendemos o
que é o logos. O radical indo-europeu
desse verbo é lg. A experiência
inaugural a que ele remete é: pôr, depor,
dispor, propor e compor. Porém, os significados correntes são: reunir, dizer, ler, narrar, colher e
repousar. Como isto se deu no acontecer poético e dialético? É que o doar-se do
ser no pôr não é um simples justapor, como se para fazer uma casa bastasse justapor
os tijolos. No pôr do ser conduz-se o que se põe para o pouso de seu ser,
dando-lhe sentido em sua realização. Tal processo implica, portanto,
ordenamentos e diferenciações de posições. Trata-se, em vista disso, de um
acolhimento diferenciado por identidade, estimulando a diferenciação. Na raiz
de todo é e não é age o vigor de legein, gerando
posições e compondo oposições. Isto pelo poder criador
(pondo) e destruidor da linguagem (depondo). Em virtude disso, na sua forma
medial legesthai, experiencia-se o
recolher-se no repouso de si mesmo e dos outros. Recolher é acolher. Tal
recolher-se à vigência do silêncio torna-se a possibilidade de todo diálogo e dialética. É que somos acolhidos pelo vazio, na vigência do nada
criativo. Quando nos recolhemos a nossa morada, a linguagem, é no vazio do
silêncio do logos que encontramos o
que somos. Das experienciações
originárias de legein, podemos
configurar três campos de significados: reunir e concentrar; assentar e
repousar; relacionar, enumerar, narrar.
Se
agora voltarmos à sentença grega, que define o homem, podemos, poeticamente,
traduzi-la: Alguém de quem o logos cuida
para ser o que é.
Lógica
Como problema filosófico, a Lógica se origina do logos. Mas este era pensado pela filosofia.
Esta consistia na procura do princípio e sentido do physis/ser, manifestando-se e velando-se como verdade, aletheia, em grego. Segundo Heráclito,
há uma disputa entre physis e aletheia, um pólemos. “Pólemos e logos são o mesmo” (Heidegger: 1969,
90). Então a tensão entre ser e verdade dá-se como linguagem ou logos. O princípio
do ser em sua verdade e sentido era o logos,
onde se fundava o mundo, o ético e a liberdade. A physis foi pensada como ta
onta: a totalidade dos sendos. To on,
o real/o sendo, é o particípio presente do verbo einai/ser. O sendo participa do
ser, mas não é o ser.
A referência de ser e homem foi a grande questão. O
homem não é um ente entre outros entes. O que o diferencia? É um enigma. “Muitas são as coisas estranhas,
nada, porém, há de mais estranho do que o homem” (Sófocles, 1969, 170). Sob influência
dos sofistas, iniciou-se em filosofia uma nova postura diante do princípio da physis/ser. Priorizando o lugar do
homem, o ser é esquecido e toma-se o homem como medida de todas as coisas.
Historicamente, o logos, como fundamento, terá duas interpretações no percurso
ocidental: a helenística e, posteriormente, a cristã. A Lógica surge com as
Escolas Helenísticas, pois nem Platão nem Aristóteles reduziram seu pensar à
Lógica epistêmica. Neles ainda não havia a diferença entre sentido do ser e
conhecimento (episteme). “A Lógica é
a ciência das configurações fundamentais do raciocinar. A Lógica, enquanto
ciência brota da filosofia, como toda e qualquer ciência, mas precisamente
nesta forma em que foi apresentada ela mesma já não é filosofia” (Heidegger:
2008, 43). Com a criação da Lógica como disciplina pretendeu-se ensinar a
pensar, tornando-se o método para aprender a raciocinar corretamente. Desse
modo, a Lógica se tornou a propedêutica para
todas as ciências, fazendo-se presente em todos os ramos de conhecimento. A
Lógica dá sequência à tradição sofística, que já desenvolvera a gramática como
propedêutica para a correta argumentação pelo conhecimento racional e
discursivo da língua. Nesse clima, em torno do logos como discurso argumentativo, surgiu uma nova interpretação do
logos: a judaico-cristã. Afirma: “No
princípio era o logos”, pois
Cristo era o Filho de Deus: Criador
das criaturas. Há uma dicotomia entre Criador e criatura, acentuada pelo
pecado. Da junção deste novo fundamento com a Lógica, surge a metafísica lógica
e dicotômica.
Esquecido o sentido do ser e sua verdade, a Lógica
dicotomiza conhecer e ente. A verdade é a verdade do discurso, isto é, da
proposição. Ficaram esquecidas a physis e
a aletheia. Mas a principal dicotomia será entre Lógica e
ente. Desde então tudo que não for lógico será ilógico. Algo contraditório aconteceu:
o logos dá origem à Lógica. E esta
passa a definir o que é o logos, reduzindo-o
a discurso e razão. No lugar da Lógica do Logos
teremos desde então o logos da
Lógica. Esta distinção é importante para a interpretação dialética das obras de
arte e de pensamento.
Deus-fundamento, como Logos, dá origem à teo-logia.
E toda a Idade Média se consumirá na discussão infrutífera de superar a
separação entre conhecimento e real, porque partiam da verdade da
Lógica. Dentro do mesmo horizonte, a Modernidade mudará apenas o nome do
fundamento, pois os problemas continuavam os mesmos: de teo-lógico para antropo-lógico.
As três questões essenciais continuam: o homem, a verdade e a linguagem.
Havia a forte tradição da ligação do homem ao logos, baseada numa sentença grega antiga: Anthropos dzoion logon echon. O logon
originou duas traduções interpretativas:
razão e discurso: homem o animal que
tem fala/razão. O discurso remete para uma concepção da linguagem e a razão
para uma da verdade. O homem como logon-fundamento
decide sobre a linguagem e a verdade. E estas decidem o que é o homem,
porque a verdade será a verdade da Lógica da proposição do discurso. É a
verdade por adequação.
O ser/physis e a aletheia continuam esquecidos. Mas a Lógica metafísica e dicotômica
não dá conta, evidente, da complexidade do ser/realidade. As dicotomias se
generalizam e surgem paradoxos e impasses. O Logos, transformado em fundamento, passou a ser a verdade e deixou
de haver a linguagem como o “entre” o ser e sua manifestação nos entes enquanto
sentido, ético e mundo. Pela Lógica nunca há um “entre” conhecer e ser;
conceito e coisa; verdadeiro e falso; universal e individual; código e língua;
discurso e linguagem; proposição e palavra; substantivo e verbo; lógico e
ilógico; real e irreal; racional e irracional; útil e inútil; ciência e arte;
raciocinar e pensar etc. etc. A língua metafísica é o discurso destas e de
outras dicotomias.
As duas traduções do logos já partem de uma interpretação da verdade como adequação e da
línguagem como discurso. Não se parte mais da aletheia (verdade/não-verdade), mas da proposição dentro da sintaxe
(linguagem como criação social), onde a verdade é reduzida à adequação entre o
dito (proposição) e a coisa dita (real). Na aletheia,
o discurso jamais é determinado pela sintaxe da proposição, pois há discursos
onde o mais importante não é o dito, mas o não-dito, caso das obras de arte e
de pensamento. É impossível separar essência da verdade e essência da
linguagem. A essência origina-se do ser/realidade. A essência do ser humano não
depende da Lógica epistemológica. É o que nos mostra Édipo. Sob impulso da
Lógica epistemológica, nega e foge do destino. No final, descobrindo que a
Lógica do destino (logos) é soberana,
arranca os olhos, reconhecendo que sabe que não sabe. É ainda com esta Lógica
que tem de ser compreendida a loucura. Um
exemplo, entre outros: Dom Quixote.
Na epistemologia temos o logos da Lógica. Na poética-ontologia a Lógica do logos. Por esta, fundamento
diferencia-se de princípio, onde inexistem dicotomias, porque a realidade/ser
não é estático, é dinâmico; não é linear, é circular; não é finito, é infinito;
não exclui, inclui. Raciocinar diferencia-se de pensar. O raciocinar é a
tradução redutora do logos por razão.
O pensar é o mesmo que ser, segundo Parmênides. Nesse mesmo (logos), o ser se doa ao homem como
linguagem. Questões diferenciam-se de conceitos. Estes são fechados e abstratos,
aquelas são abertas, pois cada resposta recoloca a pergunta em nova dimensão
etc.
O ensino das artes, tornadas disciplinas, é um
subproduto histórico da Lógica epistemológica. A essência da arte é esquecida,
porque o que está em questão na Lógica é a essência do homem. E este é
indissociável do sentido do ser. É na Lógica do logos que devem ser pensadas as obras de arte e de pensamento,
porque nelas é o destinar-se do sentido do ser que acontece.
2 comentários:
Prezado Prof. Doutor Manuel
Boa noite. Li seu artigo: Dialética, logos, lógica. Excelente texto.
Meu nome é Andreia Donadon Leal, sou da cidade mineira de Mariana.
Atenciosamente
Professor Manuel Antônio de Castro, boa noite.
Li o seu artigo O mito de Cura e o Ser Humano e ele está sendo muito útil para um dos capítulos de minha tese. O senhor traz informações sobre o mito de extrema relevância e originalidade. Gostaria de saber quais os teóricos lidos e apreciados pelo senhor sobre esse assunto específico.
Agradeço muito a atenção,
(marquesnelson@gmx.com)
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