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Como se dá o próprio? Este dar-se acontece como dobra de destino e história. Mas ela acontece dentro de um conjunto de relações e referências que não se reduzem à simplificação da relação de próprio e meio, próprio e cultura. Pelo contrário, vigora no e a partir da essência do próprio dessa con-juntura complexa que inclui as dimensões: genético-familiares, históricas, sociais, psíquicas, religiosas e criativas. Mas estas não determinam nem configuram o próprio.
O próprio dentro desta con-juntura irrompe sempre num querer poder e tender a e a agir tendo em vista um fim, a sua plenificação, a sua realização. Porém, a ação das dimensões con-junturais exerce todo o seu poder concedendo meios e querendo impor os seus fins. Daí surgem a disputa e os conflitos. Entre os fins conjunturais e o fim do próprio se dá a travessia histórica e destinal. Mas quantos perecem e ficam enleados nas malhas das dimensões con-junturais e seus efeitos e fins? Que preço se paga pela disputa na travessia histórica e destinal? Como acontece a disputa da necessidade de plenificação do próprio e das necessidades que as dimensões con-junturais impõem? Até porque o próprio vigora sempre nos insterstícios oblíquos da presença da realidade na travessia de realização, dentro dos sistemas impositivos do real. Porém, o próprio é sempre o próprio da realidade eclodindo em realizações, as realizações do próprio da própria realidade e não das relações nem dos sistemas. Realidade não é meio natural ou social, não são as conjunturas. Realidade é o vigorar da Essência do próprio. No e como próprio se dá a Essencialização da realidade.
E é aí que muitas vezes o maior inimigo é o "eu", aquele "eu" resultante das tintas com que nos vão pintando os sentidos, com as tintas que os outros e os sistemas produzem e com as quais o "eu" imagina, se projeta e se ilude em pintar o próprio. Este próprio não é um "eu" configurado com tintas que advêm das dimensões conjunturais dos sistemas. O próprio é o irromper histórico do destino uma vez que todo destino é o acontecer do próprio.
O destino não se estrutura de fora nem para fora. Ele se estrutura no disposto que envia e avia no que constitui o próprio. É sua Essência enquanto singularidade. A singularidade é a realização, enquanto travessia histórica e destinal, da Essência do próprio. Esta é a Essencialização do que é no e pelo Ser. Só sendo é que o "eu" se realiza, não como vontade e pessoa ou persona, mas enquanto Essencialização do que é, sendo o próprio. Só se realiza quando é e quando pode dizer "sou". Daí que a linguagem é a eclosão do próprio em sua Essencialização. Linguagem não é meio de nada. Meio é o discurso. Cada língua é a presença manifestante da linguagem. A linguagem é o velado da língua operando, essencializando o próprio.
Não há "eu" singular, pois ele será sempre a composiçaõ de camadas diante dos e para os outros. Será sempre o "eu" da funcionalidade das funções que as conjunturas impõem e compõem. As funções são possibilidades do próprio e não e jamais a sua constituição. Quando o próprio se reduz às funções do "eu", dá-se o impróprio, o insistir na errância enquanto esquecimento da verdade. A verdade é o desvelamento do próprio. Mas não há desvelamento sem velamento. Quando o desvelamento pelo desvelamento acontece, acontece a insistência na errância. Insistir na errância é esquecer o Ser, o velado como a não-verdade de toda verdade. O "eu" sem funções se desmancha e cai no vazio e no tédio, que é o esqquecimento do próprio. E é então que advém a essência da solidão. A solidão acontecendo é a singularidade de só ser e não de ser só.
A singularidade do próprio é o outro em relação aos outros e o outro do "eu". O outro do que é é o Nada dele mesmo. Só assim pode e há singularidade. Só assim pode e há o próprio, o querer do poder do próprio. Este se apropria quando e só quando pode dizer singularmente "sou", sem "eu" ou "identidade" que o determine. Toda identidade se torna então identificação com as circunstâncias culturais. E a determinação da singularidade vem sempre do próprio, do que é. Singularmente sendo o próprio. Então acontece poeticamente o apropriar-se que destinalmente lhe foi dado e presenteado para presencializar-se.
Todo próprio ao Ser sendo vigora enquanto presença. Esta é sempre o desvelamento do que vigora velado. O próprio é a presença do velado, assim como cada ser vivente (bios) é a presença da vida (zoé). Vemos o vivente, não vemos a vida que vigora velada. Sem o vigorar da vida não há vivente. Toda presença é singular. A sua singularidade é o vigorar do velado do próprio. Por isso o próprio é sempre um acontecer poético.
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