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Ao leitor: esta reflexão se move na liberdade de pensar. E é isso que o leitor deve também procurar fazer. Moira é o mistério maior em que o ser humano se move desde sempre. Ela é nossa medida, mas como tomar conhecimento dela senão a experienciando? E então se coloca a moira como a essência do agir, ou seja, como sua medida. Uma medida que nos mede, mas da qual não temos domínio, isto é, não a temos, somos possuídos por ela. E só nela e por ela podemos chegar a ser livres, uma liberdade conquistada a cada dia que a moira se torna nosso destino, livremente vivido e experienciado. Então ser possuído pela moira é ser possuído por eros. Eros é a plena liberdade.
Moira nunca é uma questão de escolha da vontade, mas uma questão de ser tomado pelo extraordinário e é neste ser possuído que se dá o acontecer poético. Não é o ser tomado pelo extraordinário uma questão de êxtase ou de êntase repentino, mas é o próprio acontecer poético longa e essencialmente amadurecendo e tomando corpo. É qual um aion desdobrado na tensão poética de cronós e kairós ao longo do suceder das estações e suas horas. Todo caminho é um percurso que excursiona pelo incurso do extraordinário enquanto acontecer poético. Quando nos sentimos enleados nas dobras do extraordinário em meio ao aparente infinito e imutabilidade do decorrer dos dias e horas, é então que tudo se torna claro e não podemos senão dizer: Apolo me feriu. Então a travessia tem uma outra ressonância, para além dos avios pessoais, porque inseridos nos envios do tempo das épocas. Ser não é mais uma opção, porém, um vigilante e pleno deixar acontecer. Ser é entre-acontecer poetica e eticamente. E tudo se move ao mesmo tempo que tudo se torna calmo e um repouso integrador e pleno se torna o real. E tudo é sem por quê, porque simplesmente é. Moira não é mais necessidade. É a leve e solta e completa liberdade. Eros. Amor.