É muito fácil ao ser humano transpor para "Deus", que não deve nem pode ser um nome entre nomes, mas o mistério, problemas do seu âmbito de ação e comportamento. Por isso vemos que há uma insistência em querer atribuir a "Deus" qualidades ou atributos estritamente acidentais, que só podem dizer respeito ao ser humano. Não é melhor o respeito do silêncio? O acolhimento de sua presença e sentido?
Deus é fiel. Eis uma afirmação inútil e perigosa. "Deus" não é fiel nem infiel. "Deus" não é, pois se fosse seria um "ente" entre outros "entes", e não "Deus". Como "Deus" ele já contém em-si todas as qualidades ou, o que dá no mesmo, nenhuma. Ele é uno, bom, belo e verdadeiro, de uma maneira absoluta. "Deus" é fiel ou infiel, no fundo, dá no mesmo, pois tais adjetivos ou atributos nada dizem quando se trata de "Deus", que melhor seria denominar "Mist´rio". Por isso "Deus" não é fiel ou infiel, porque não "é". Só o ser humano, que "é", pode ser fiel ou infiel. Por que não acolher "Deus" como o vigor do silêncio e deixar que escutemos, fiel ou infielmente, o mistério da sua voz e assim nos tornemos humanos? Humano? Sim, o deixar acontecer o mistério que leva cada um à dignidade do que é., acolher, enfim, a claridade de sua verdade, habitar nela, tornando-a o sentido de nosso viver. E mais: unir-se e reunir-se a todos os seres num hino de louvor e gratidão, sem julgar aos outros, numa procura incessante do que recebemos para ser. Nisso podemos ser fieis ou infieis, fracos, débeis, finitos. Até para nos sabermos infieis e finitos já temos que ter a abertura, que só o Mistério nos pode conceder, e concedeu por simplesmente sermos humanos, de sua presença. Experienciá-la é que é ser fiel, grato. Rio, 03-11-07